História

A importância das Missões


Situado fora do eixo de comércio do Brasil com a metrópole, o Rio Grande do Sul foi, durante o seu processo de formação, uma área de maior valor político do que econômico.

 Embora não contasse com produtos de exportação de grande interesse, como o Norte e Nordeste (com as especiarias e o açúcar) e, mais tarde, as Minas Gerais (com o ouro), o Rio Grande atraía portugueses e espanhóis pela possibilidade de controle do sul do continente que sua ocupação abria.

 Isto fez com que fosse, desde o princípio, uma região em constante conflito, onde as duas potências ibéricas lutavam pelo domínio da terra, provocando constantes alterações de seus limites fronteiriços -- que só se fixariam definitivamente em 1909, quando a última questão de demarcação de limites entre o Brasil e o Uruguai foi resolvida.

 Inicialmente, o Rio Grande era uma "terra de ninguém", de difícil acesso e muito pouco povoada. Vagavam por suas pradarias os índios guarani, charrua, tapes; e, vez por outra, aventureiros que penetravam em seu território em busca de índios para apresar.

 Esse quadro foi modificado com a chegada dos padres jesuítas, que, no início do século XVII, na região formada pelos atuais estados do Rio Grande do Sul e Paraná, e pela Argentina e Paraguai, fundaram o que ficou conhecido como "Missões Jesuíticas".

 Nelas se reuniam em torno de pequenos grupos de religiosos, grandes levas de indios guarani convertidos, que levavam uma vida regida por regras ditadas pelos padres.

 Procurando garantir a alimentação dos  índios convertidos, os jesuítas introduziram o gado nas suas reduções, onde o clima e a vegetação propícios fizeram com que se multiplicasse rapidamente. Ao agirem assim, os missionários criaram dois atrativos para aqueles que apresavam índios: agora, além de encontrarem índios já "civilizados" -- graças ao trabalho dos jesuítas -- achariam também o gado, que seria, a partir de sua proliferação, a principal fonte das atividades econômicas do Sul.

 Os ataques às reduções jesuíticas passaram a ser feitos de forma organizada, e até 1640 diversas bandeiras paulistas estiveram no Rio Grande do Sul para capturar índios e gado, provocando o desmantelamento de algumas das reduções, e a migração das populações nelas residentes para áreas consideradas mais seguras. Muitas vezes, ao partirem, os habitantes deixavam atrás de si o gado, que, solto, continuava a se multiplicar.




História do Rio Grande do Sul



A história do Rio Grande do Sul, o estado mais ao sul do Brasil, inicia-se com a chegada do homem à região, cerca de 11 mil anos atrás. Suas mudanças mais dramáticas, no entanto, ocorreram nos últimos cinco séculos, depois do descobrimento do Brasil. Esse percurso mais recente transcorreu em meio a diversos conflitos armados externos e internos, alguns de grande violência. Guilhermino César dizia, justificadamente, que essa história "é um dos capítulos mais recentes da história brasileira", pois quando no Nordeste já se cantavam missas polifônicas, este estado ainda era ocupado por um punhado de povoados e estâncias de gado portuguesas no centro-litoral, e o sul-sudeste era uma "terra de ninguém" onde frequentemente incursionavam tropas espanholas mandadas por Buenos Aires, defendendo os interesses da Coroa Espanhola, proprietária legal da área nessa época. Essencialmente, o Rio Grande do Sul, até o fim do século XVIII, era uma região virgem habitada por povos indígenas.[1] Os únicos focos importantes de civilização e cultura européias em todo o território até esta altura eram um brilhante grupo de reduções jesuítas fundado no noroeste, destacando-se entre elas os Sete Povos das Missões. Entretanto, sendo de criação espanhola, até há pouco tempo as Missões eram vistas como sendo um capítulo à parte da história do estado, tanto mais por não terem deixado descendência cultural direta significativa. Em anos recentes, entretanto, vêm sendo assimiladas à historiografia integrada do estado.[2]
Na primeira metade do século XIX, após muitos conflitos e tratados, obtendo Portugal a posse definitiva das terras que hoje compõem o estado, expulsos os espanhóis, desmanteladas as reduções e massacrados ou dispersos os índios, se estabeleceu uma sociedade de matriz claramente portuguesa e uma economia baseada principalmente no charque e no trigo, iniciando um florescimento cultural nos maiores centros do litoral - Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Esse crescimento contou com a contribuição de muitos imigrantes alemães, que desbravaram novas áreas e criaram culturas regionais significativas e economias prósperas, bem como com a força de muitos braços escravos. Em 1835 iniciou um dramático conflito que envolveu os gaúchos numa guerra fratricida, a Revolução Farroupilha, de caráter separatista e republicano. Finda a guerra a sociedade pôde se reestruturar. No final do século o comércio se fortaleceu, chegaram imigrantes de outras origens como italianos e judeus, e na virada para o século XX o Rio Grande do Sul havia se tornado a terceira maior economia do Brasil, com uma indústria em ascensão e uma rica classe burguesa, mas ainda era um estado dividido por sérias rivalidades políticas, e houve mais crises sangrentas. Nessa época o Positivismo delineava o programa de governo, criando uma dinastia de políticos herdeiros de Júlio de Castilhos que governou até os anos 1960 e influiu em todo o Brasil, especialmente através de Getúlio Vargas, que em sua origem fora castilhista. No período da ditadura militar o Rio Grande do Sul enfrentou muitas dificuldades no que diz respeito à liberdade de expressão, como enfrentou todo o país, mas o crescimento econômico do Milagre Brasileiro propiciou investimentos na infraestrutura. No final do ciclo, porém, o estado havia acumulado enorme dívida pública. Nas últimas décadas o estado vem consolidando uma economia dinâmica e diversificada, ainda que bastante ligada ao setor agropecuário, e vem ganhando fama como tendo uma população politizada e educada. Ainda que existam muitos desafios a serem vencidos e grandes diferenças regionais, em geral melhorou sua qualidade de vida alcançando índices superiores à média nacional, projetou-se culturalmente em todo o Brasil e iniciou um processo de abertura para outros cenários em face da globalização, enquanto que passava a prestar mais atenção às suas raízes históricas, à sua diversidade interna, aos excluídos e minorias, e ao seu ambiente natural.